Futebol e MMA

A estúpida rivalidade em torno de futebol e MMA

Nos últimos anos o MMA se popularizou muito em vários locais do mundo, entre os quais o Brasil, por outro lado, junto com a popularização tem crescido também as críticas contra as artes marciais mistas, várias dessas críticas sendo proferidas por comentaristas esportivos que tem muita visibilidade e são formadores de opinião, então decidi escrever um post dedicado a essa estúpida discussão entre os dois esportes.

Por: André Salgueiro Lima

Antes de tratar sobre a rivalidade em si, gostaria de fazer alguns comentários sobre o cenário esportivo no Brasil nos últimos anos.

Não há dúvidas que a mídia tem um papel fundamental para a difusão de um esporte, a popularização de uma atividade esportiva normalmente vem acompanhada da cobertura midiática, sobretudo, da tv aberta. O futebol sempre foi popular no Brasil, sem dúvida o esporte mais admirado pelo povo brasileiro, a rede Globo procurava por outra fonte de ibope, outro esporte que pudesse massificar na cultura popular, e ela encontrou o automobilismo, com os eventos de Fórmula 1, que tinha grandes ídolos brasileiros, ela fez um bom trabalho na divulgação e popularização do esporte, conseguindo fazer com que o automobilismo ficasse muito popular no país.

O piloto brasileiro Ayrton Senna era provavelmente o maior ídolo do esporte brasileiro na época, idolatrado pelo país e vitorioso no esporte, para tristeza de milhares de fãs, Senna morreu durante uma das provas automobilísticas que disputou em 1994. Desde o falecimento de Senna o Brasil ainda procura por um ícone esportivo.

No futebol o Brasil sempre teve grandes craques que se destacaram no cenário mundial, considerando o período de 1994 até os dias atuais, podemos apontar alguns nomes como Romário, Ronaldo (fenômeno), Rivaldo, Kaká e hoje, Neymar é o grande nome da mídia, a seleção venceu as Copas do Mundo de 1994 e 2002, mesmo assim, nenhum deles conseguiu atingir o patamar de ídolo nacional.

É possível que a rivalidade entre times e torcidas de futebol tenham impossibilitado que um jogador de futebol se tornasse o tal ícone esportivo, quem sabe isso ainda possa ter sido reforçado pela falta de identificação do povo com os craques que tinham o seu destaque jogando no futebol europeu.

Outras dois esportes poderiam ter atingido o gosto popular em larga escala, o Vôlei e o Tênis. Gustavo Kuerten o "Guga" foi o maior tenista brasileiro na história, sendo alcançado o 1º lugar no ranking mundial durante certo momento de sua carreira, porém, o tênis é visto no Brasil como um esporte de elite, pouco apreciado e difundido, além disso, pelo formato de duração das partidas ele conseguiria se encaixar adequadamente na programação da TV aberta. Enquanto o vôlei brasileiro que se mostrou uma grande potência também não alcançou o gosto popular, apesar do sucesso brasileiro nas quadras o vôlei não emplacou.

Mas havia outro esporte em que atletas brasileiros eram protagonistas em um cenário mundial, um esporte que começou de maneira disforme, e que pouco a pouco foi se moldando para atingir um nivel de uniformidade de regras, esse era o vale tudo, que de certa forma deu origem ao fênomeno mundial do MMA, e este, sempre recebeu fortes críticas da mídia e de populares pela suposta violência.

Desde a morte de Ayrton Senna tivemos esse "vácuo" na vaga que seria do grande ídolo nacional do esporte, esse lugar poderia ser ocupado por Neymar, jogador do Santos, craque de bola que se destaca também participando de um sem número de campanhas publicitárias, um jovem que representa o futuro e o presente do futebol brasileiro sendo visto como o principal jogador da seleção brasileira, apesar de tudo isso, Neymar não conseguiu ocupar o tal lugar, talvez pelo excesso de publicidade que o cerca, talvez pela jovialidade, ou mesmo por parte da uma parcela da mídia e comentaristas que o vêem como um alvo fácil para suas críticas, enfim, Neymar não é o ídolo nacional, e este lugar foi tomado por outro atleta, este, um vencedor já consagrado, veterano no seu esporte, um batalhador com o sobrenome "Silva", a identificação com o povo brasileiro não poderia ser maior, hoje, o lutador de MMA Anderson Silva é o atleta que está mais próximo de ser o ídolo do esporte brasileiro.

Anderson Silva é visto por muitos especialistas como o melhor lutador peso a peso da atualidade, detentor do cinturão dos pesos médios e cuja última derrota ocorreu em 2006. E junto com Anderson, vários outros atletas brasileiros se destacam no MMA, nomes como: Vítor Belfort, José Aldo, os gêmeos Nogueira "Minotauro e Minotouro" são exemplos de talentos desse esporte que tem o Brasil como uma das nações de representação mais forte.

É claro que a massificação do MMA não ocorreu de forma espontânea, as lutas sofriam e ainda sofrem muitas críticas e não são completamente aceitas pela população, a internet foi um dos meios mais usados pelos fãs do esporte que procuravam por informações, notícias e gravações das lutas do MMA, outra fonte importante que ajudou a divulgação do esporte foi o canal combate, um canal da tv fechada que precisa ser contratado à parte pelo assinante, a ironia é que esse canal que teoricamente seria visto apenas pelos fãs que tivessem boa condição financeira, na prática, foram milhares de populares que tiveram acesso a esse canal através das transmissões ilegais de tv a cabo, vulgarmente conhecidas como "gatonet".

Se a internet e o canal combate foram os responsáveis pela inserção do MMA para a população brasileira, o BOOM! do esporte aconteceu nos 3 anos aproximadamente, com um grande apelo comercial, os atletas do esporte se tornaram estrelas, aparecendo em programas da tv aberta, comerciais, e culminando na transmissão de algumas lutas ao vivo pela tv aberta.

Realmente houve um grande trabalho publicitário que transformou o MMA de um esporte "underground" para uma paixão popular e uma moda capaz de atingir a todas as camadas sociais, mas não foi só a publicidade que impulsionou o esporte, a uniformização das regras e o trabalho das organizações que montam os eventos foi crucial para a atividade, em vista da necessidade de tornar as "lutas brutais" aceitáveis para a sociedade.

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